Lamento, tentei… mas
olho para uma folha em branco e a escrita já não flui no caminho do protesto,
do escárnio ou da indignação da vida dos outros e da minha não menos vezes
também.
Acho que escrever é
tão bom quanto desabafar ao psicólogo… mesmo que escreva sobre o cabrão do
maquinista de ontem por ter causado o caos no comboio, porque a greve que lhe
assiste é o direito dele tirar o direito aos outros!
Hoje mais uma vez em
que decido escrever no blog tenho vontade de deletar o texto todo e começar de
novo, de clicar na cruz sem “save as”, puxar o cabo da tomada e ir. Passa um
mês e as tentativas diárias têm um ritmo que explica como sou.
A vida é mais difícil
especialmente quando se tem a noção de que nos foi dado a comer do fruto
proibido, e que o bem e o mal ficaram tão claros para nós como evian.
Nada do que faço
pode ser obducto, porque mora em mim. Sempre habitará… há quem
consiga vomitar essa suposta maçã, mas mesmo que o declarem eu não acredito… no
fim houve proteínas, nutrientes que se infiltraram nas nossas células e naquelas
que só morrem no dia do enterro.
Escrever sobre o que
me vai na cabeça e tão difícil que se torna um tormento. Dou por mim a querer
ser quem não posso e a imaginar estar onde não consigo chegar.
Muitos falam em
liberdade, e sobre o que a vida significa, e perco-me a imaginar como seria se
eu me sentisse livre, realmente liberto.
Outrora falei que
ser livre é um termo filosófico “…ser livre é fazer o que segue necessariamente
da natureza do agente.” Spinosa. Mas a
minha natureza obriga-me a fazer aquilo que não quero.
Como se sai deste
modo!? Atitude, atitude, atitude…. Mas o que custa é a atitude que me envolve
numa consciência travada por parênteses rectos… o que para uns parece simples
não o é para outros e a consciência é uma coisa individual que não pode ser
partilhada.
Continuo na procura de saber como
se chega a dar o grito do Ipiranga, como se chega à emancipação própria e
libertação dos complexos e dos compromissos, sentir-me completamente
descomprometido, relaxado, descontraído… vejo que isso existe, mas eu sou como
sou, sou a tradução da minha vida em pessoa ciente do bem e do mal cujo grito
foi dado aquando da palmada do nascimento.
Resta-me olhar o para
o futuro com uma perspectiva menos eterna percebendo que na realidade o melhor
que há a fazer é ignorar toda a minha história criando uma nova… uma história
que descreva o que sou de verdade.
A ajuda, divina ou
não, tem de aparecer, eu vou esperar mais um pouco porque isto não pode ser
eterno.
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